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Cecília Dassi foi uma das atrizes mirins mais famosas do Brasil, mas a jovem, que encantou os telespectadores com personagens fofíssimos como a Sandrinha de “Por Amor”, está trocando, definitivamente, a carreira artística pelos bastidores. Com 26 anos, a jovem, que se formou em Psicologia há três anos, está atendendo em consultórios pela Zona Oeste do Rio e recebeu o EGO em um deles para falar sobre a nova fase de vida.

“As pessoas sempre perguntam se vou voltar a atuar, têm uma expectativa. Não entendem quando eu digo que não. Para elas é estranho saber que saí do meio por vontade própria, que foi uma decisão minha e que estou muito feliz. Estar na Globo é muito atrante – o glamour, a fama. Hoje em dia todo mundo quer ser famoso para ter um nome, por uma busca por identidade. Mas isso tudo é uma ilusão. Eu nunca quis isso! Era a parte que eu não gostava do trabalho. Me incomodava chegar em um lugar e todo mundo vir falar comigo, parar para olhar. Me apaixonei e me encontrei na Psicologia”, revela ela que, no entanto, curte até hoje o carinho que recebe nas redes sociais: “Sempre recebi muitas cartas e lia todas! Até ligava para alguns fãs que me mandavam o número de telefone porque queria conversar mais, mas nunca acreditavam que era eu mesmo (risos). Hoje tomo muito cuidado com tudo que posto e tento responder a todos”.

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Cecília Dassi: em 1997, na época de ‘Por Amor’, e atualmente, aos 26 anos.

Já faz alguns anos que Cecília está fora das telinhas, mas desde que seu contrato de trabalho como atriz se encerrou de vez, no ano passado, ela passou a se dedicar realmente à nova profissão. Ela descarta aceitar algum convite para voltar às novelas, mas afirma que pode estudar propostas para o teatro e o cinema mais à frente: “Gosto de ser atriz, mas não tenho mais interesse no tipo de trabalho que a novela traz. A TV é muito hostil, porque o esquema exige uma correria, não existe tempo para estudar e aprofundar o personagem. Isso não me motiva mais, não me desperta paixão.

Se eu conseguisse conciliar com os atendimentos nos consultórios, até voltaria a atuar, mas no teatro ou cinema. De qualquer forma, só depois, porque agora estou tentando me estabelecer na Psicologia. Meu encantamento hoje em dia é muito mais laboratorial, de experimentação”.

Terapia familiar com atores mirins

Apesar da decisão de se afastar da televisão, o caminho escolhido por Cecília na Psicologia tem muito a ver com tudo que ela viveu ao longo dos anos em que trabalhou no meio. Após fazer um curso de arteterapia – que encerrou este mês após dois anos e meio de estudos -, ela decidiu trabalhar na linha junguiana, ligando a terapia com as necessidades do ator. “Meu objetivo é potencializar o ator clinicamente. Não é exatamente um coach, mas uso textos, por exemplo, como ferramenta para conhecer a pessoa por dentro, para explorá-la como ser humano. Estou do outro lado agora, mas continuo muito inserida nesse universo artístico”, afirma.

Por causa de sua experiência de trabalho quando criança e o fato de ter constatado uma carência de pesquisas e estudos em relação ao comportamento dos atores mirins, a jovem resolveu se aprofundar com este público. Atualmente, ela atende cerca de dez pacientes fixos, além de alguns que vêm e vão.

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“O trabalho terapêutico com crianças tem como um dos principais objetivos estimular a capacidade de identificar sentimentos, nomeá-los e elaborá-los de modo produtivo. Isso, por si só, torna a criança muito mais potente e preparada para atuar. Como ela vai representar a raiva que o personagem esta sentindo em determinada situação se nem ela mesma sabe como é sentir raiva?”, exemplifica.

Cecília destaca também que os atores mirins têm um acúmulo muito grande de atividades e precisam lidar com responsabilidades que muitas vezes estão além de sua idade: “Não quero demonizar o trabalho do ator na infância, mas nem tudo são flores. Não é só glamour. As coisas têm que ser acompanhadas. A parte boa todo mundo vê, mas tem as partes ruins. Tem criança que ensaia oito horas por dia, além de fazer aulas de dança e canto, e ainda é cobrada por notas altas no colégio. Atendo ex-atores mirins que não conseguiram manter o sucesso e vejo o impacto que isso teve na vida deles… Ansiedade intensa é um sintoma muito frequente. Um dos primeiros sintomas que as crianças apresentam é o fato de ficarem adultizadas. Isso me incomoda porque elas se transformam em um robôzinho que faz tudo perfeitamente bem 100% do tempo e não é normal ser assim”.

Como acredita que a família tem grande influência na escolha das crianças em serem atores e são os pais que dão o tom na forma em que elas irão encarar o trabalho, Cecília normalmente tenta atender a família como um todo e não só o paciente. Ela, inclusive, está fazendo um segundo curso de terapia sistêmica familiar.

“Tive uma família muito presente e dedicada, que soube lidar bem com a situação, mas via que outros colegas não tinham essa mesma sorte – que não estavam felizes fazendo aquilo ou que sofriam com as cobranças dos pais que acabam transferindo um sonho pessoal para eles. As pessoas não vêem isso como um trabalho infantil, mas tem gente humilde que deposita toda sua esperança e expectativa no sucesso do filho, famílias que se separam e se mudam… É uma carga muito grande para uma criança suportar. Já vi algumas delas se preocupando com dinheiro, questionando as mães sobre contas. Não pode ser assim”, lamenta ela, que garante não ter ficado traumatizada: “Não preciso ter sido abusada para falar sobre isso. Mas eu tenho experiência, vendo tudo que acontecia à minha volta”.

Por que Psicologia?

Questionada o porquê de ter escolhido esta formação, Cecília conta que sempre gostou de se aprofundar e pensar sobre diversos assuntos e admite um pouco de influência da mãe, que também é psicóloga. “Estava procurando algo que me preenchesse como ser humano. Penso muito, analiso… Quero fazer bem para as pessoas, tocá-las e potencializá-las. Lamento muito quando vejo que alguém tem potencial, mas não consegue desenvolver isso porque tem bloqueios, traumas.

Estou fazendo a minha parte e vou fazer tudo que puder para ajudar cada pessoa que vier até mim a buscar o seu melhor. O psicólogo existe para isso, não é para gente doente e maluca como muita gente ainda pensa. Nossa tarefa é melhorar a qualidade de vida”.

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Sobre seus próximos objetivos, a jovem – que não quis revelar se está ou não namorando – afirma que quer focar na profissão e no desenvolvimento pessoal: “Quero ter meu próprio consultório, aumentar o número de pacientes. Mas não quero atender muitas pessoas por dia. Quero qualidade, estar inteira sempre. Chego em casa muitas vezes e fico pensando em como resolver os problemas que surgem nas terapias. Gosto que cada um se sinta único quando estiver conversando comigo”.

Fonte: Ego