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No dia 26 de setembro de 2014, cerca de 100 jovens, com idades entre 18 e 21 anos, viajavam para protestar contra as reformas educacionais mexicanas. Todos eram de Ayotzinapa, uma escola tradicionalmente de esquerda que dava aulas para a população carente e comunidades indígenas. O destino era Iguala, no estado de Guerrero, costa pacífica do México. Durante o percurso, o grupo foi parado por policiais às ordens do prefeito de cidade, José Luis Abarca, que temia que os garotos interrompessem um comício de sua mulher – que acontecia no mesmo dia.

Durante o confronto com a polícia, seis estudantes morreram no local e outras 25 pessoas ficaram feridas. De acordo com o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, 15 dos desaparecidos já foram entregues mortos por asfixia pela polícia ao cartel de narcotraficantes Guerreros Unidos. Parte do grupo conseguiu escapar e outros 43 jovens foram levados por carros oficiais do Estado.

O crime

Depois de mais de 40 dias sem notícias dos estudantes, três integrantes do cartel Guerreros Unidos foram presos e confessaram o assassinato dos jovens que estavam nos carros oficiais. Segundo a confissão, os meninos teriam sido entregues por policiais aos traficantes, que afirmam ter queimado os garotos por mais de 12 horas e depois jogado as cinzas em um rio. Com o alto grau de carbonização dos corpos, não se sabe ainda se a perícia conseguirá reconhecê-los.

Os pais dos estudantes se recusaram a aceitar o depoimento dos traficantes. “Enquanto não houver um resultado oficial das investigações, nossos filhos continuam vivos”, disse Felipe de la Cruz, pai de um dos estudantes e porta-voz do grupo de famílias com desaparecidos no massacre.

“Pelas ruas, manifestações indignadas exigem justiça numa terra acostumada à injustiça. Há algo mais, porém, que supera isso que poderia ser um caso isolado da alta mistura de políticos e policiais corruptos com narcotraficantes. É que o México vive, há pelo menos sete anos, uma espiral de violência sem precedentes”, afirmou à Agência Carta Maior o jornalista Eric Nepomuceno, especializado em política latinoamericana.

Os acusados

Abarca, o prefeito de Iguala, pediu licença do cargo quatro dias após o desaparecimento dos jovens. Tendo sua esposa como cúmplice, os dois fugiram. O casal foi detido e preso por ordenar a execução dos estudantes no dia 4 de novembro. Ele já tinha sido investigado diversas vezes por suspeita de ligação com o crime organizado. Irmã de três narcotraficantes, a primeira-dama da prefeitura e ex-atriz de novelas mexicanas, Maria de los Ángeles Pineda, é a principal acusada de chefiar os Guerreros Unidos em Iguala. No total, 74 suspeitos de participar do ataque foram presos. Entre eles estão policiais, políticos e narcotraficantes.

O governador Ángel Aguirre, diante da pressão popular e do próprio partido, renunciou o cargo no dia 24 de outubro. O estado é um dos mais pobres do México e tem as mais altas taxas de homicídio do país.

Revolta no México

O desaparecimento dos estudantes chocou a nação, pois provou a ligação direta entre autoridades municipais, a polícia e o crime organizado. Uma onda de manifestações foi provocada por todo o México – umas exigem que os estudantes sejam encontrados, outras reúnem pessoas indignadas em relação à corrupção.

A forte comoção mexicana leva hoje à maior crise política do governo de Enrique Peña Nieto, que enfrenta o pacto sinistro entre a política e o crime organizado.

#YaMeCansé

“Eu cansei de responder às perguntas”, disse o procurador-geral do México à imprensa durante as investigações. A frase tornou-se slogan das manifestações nas redes sociais, demonstrando o forte descontentamento da população. No Twitter as hashtags #YaMeCanséDelMiedo (#JáMeCanseiDoMedo) e #EstoyCansado (#EstouCansado) ganham forte repercussão e vêm acompanhadas de comentários como ?se Murillo estava tão cansado, ele deveria renunciar?. Ou então #estamos cansados ?da impunidade, da injustiça e de políticos corruptos?.

Por que o problema ultrapassa a fronteira mexicana?

A organização Human Rights Watch, que se dedica a defender o diretos humanos, classificou o crime como um dos mais graves da história contemporânea da América Latina.

A corrupção e as fortes ligações que governos mantêm com crimes organizados são mortais para qualquer país. E a militarização da polícia é assunto que vale a pena ser discutido em todas as nações, pois viola os direitos humanos causando danos incorrigíveis a qualquer sociedade.

Fonte: M de Mulher