orgulho e preconceito 1

Não surpreende que “Orgulho e preconceito e zumbis” seja um filme de fazer Jane Austen, autora do original, rolar no túmulo e arrancar o cérebro dos responsáveis. O maior problema nem é a invasão de mortos-vivos. A heresia tem até sua dose de diversão. A falha é com os personagens vivos mesmo. A ação é arrastada no meio e adoçada por todos os clichês de uma possível franquia teen no final.

Lily James (de “Cinderela”) e Sam Riley (de “Control”) fazem uma simpática versão do casal Liz Bennet e Mr. Darcy. Ele vira um caçador de zumbis implacável e arrogante. Ela e suas irmãs se tornam guerreiras treinadas na China para combater os seres que aterrorizam a Inglaterra. As outras figuras são basicamente as mesmas do livro de 1813. A paródia é adaptada: o novo longa é baseado no livro best-seller de mesmo nome, de 2009.

Zumbis aristocratas

A maior mudança é com o personagem George Wickham (Jack Huston). Mais do que o inimigo de Darcy que seduz uma das irmãs de Liz, ele se torna importante na ligação das figuras já conhecidas com os mortos vivos, em especial um grupo de zumbis aristocratas (sério). Outro personagem que cresce é Mr. Collins, o primo herdeiro e inconveniente. O ex-Doctor Who Matt Smith (namorado de Lily James) é um alívio cômico do início ao fim.

orgulho e preconceito 2

Há duas formas de defender o filme, ambas com certa razão. A primeira é que ele seria uma forma de contar “Orgulho e preconceito” para jovens. De fato, boa parte do texto parece um resumo daqueles de apostila de vestibular para preguiçosos. O preconceito de Mr. Darcy é explicado didaticamente. Conta a história e economiza tempo para a ação.

A segunda e mais importante defesa é que é tudo uma grande zoeira. De fato, não dá pra negar a graça das cabeças explodindo ou das perseguições surreais. É quase a mesma história contada de um jeito que tem menos chance de aborrecer as novinhas e novinhos.

Orgulho ferido

Aí vêm os dois principais defeitos do filme. O primeiro é que, estourada a primeira cabeça de zumbi e aberta a possibilidade para divertir, a oportunidade não é bem aproveitada. A ação se arrasta até um final supostamente grandioso. A maioria dos diálogos e cenas que deveriam ser externas são transferidas para ambiente interno, em uma possível economia para a batalha derradeira, que nem impressiona tanto assim.

O segundo pecado é que, após transformar as irmãs Bennet em guerreiras “bad ass” (a primeira cena em que elas revelam isso é demais), o desfecho é mais careta do que a história de 200 anos atrás. Se a série inglesa de 1995 e a edição americana do filme de 2002 já foram acusadas de forçar a barra para ter uma obra comercial, o teor caça-níqueis aqui é maior.

Troca de comando

Natalie Portman chegou a ser anunciada como protagonista e David O. Russell foi cogitado para a direção. Não chega a ser um mico a troca por Lily James, nome em ascensão, e Burr Steers, diretor do ótimo “A estranha família de Igby” (2002). Mas também não é tem o impacto que se podia imaginar.

“Orgulho e preconceito e zumbis” garante algumas risadas, mas o fato de metade delas serem em cenas que seguem à risca o texto original não é um bom sinal. A tarefa de inserir terror e comédia no meio de um drama esquemático não deixa de ser cumprida. Numa prova do Ensino Médio de adaptações adolescentes, levaria nota seis.

 

Fonte: G1