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“Ator tem que saber seu texto, tem que se preocupar com seu colega, olho no olho. Não tem que se preocupar com câmera”. Quem afirma é Tony Ramos, um dos principais nomes do elenco de “A Regra do Jogo”, que estreia na próxima segunda-feira (31). A observação do veterano, que vive o misterioso Zé Maria, bate com a de grande parte de seus colegas, que estão experimentando um novo método de trabalho sob a batuta da diretora geral Amora Mautner. Idealizada por ela há cerca de dois anos, a caixa cênica – um cenário integrado que permite visualizar a ação em 360 graus – possibilita que os atores circulem pelo set durante a cena sem a preocupação de estar no lugar certo, na posição correta, sob a luz ideal.

“Dá uma dinâmica diferente, tudo acontece ao mesmo tempo muitas. Tem muitas câmeras, então é como se fizéssemos peça de teatro de dois minutos a cada cena. Tudo acontece de forma real. Ensaiamos como se fosse uma peça, sem cortes. É um pouco mais difícil, porque a gente fica sem deixa, tem que estar muito ligado. Exige uma técnica grande dos atores, mas é um grande exercício”, conta Marcello Novaes, que repete com a diretora e o autor João Emanuel Carneiro a parceria bem-sucedida de “Avenida Brasil”, agora na pelo do playboy Vavá.

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Amora Mautner ensaia cena de “A Regra do Jogo” com Cauã Reymond

Fazer novela é um trabalho minucioso: cada cena que se vê no ar, por mais curta que seja, exige muitas gravações, para ambientar o cenário, mostrar um detalhe, uma expressão do ator, a reação do parceiro de cena. E nada pode sair do lugar previamente combinado para ficar bem no vídeo. Na proposta de Amora, o elenco fica à vontade no set e se movimenta com mais liberdade – tanta que vez ou outra alguém pode aparecer de costas, de lado, num ângulo pouco convencional.

“Eu falo assim para os câmeras: um vai acompanhar a Giovanna Antonelli e o outro, o Alexandre Nero. Na hora de gravar, eu falo: ‘Nero, agora em vez de começar no banheiro, começa deitado na cama’. O ator só quer uma coisa: que quando ele dá o coração, que isso seja captado e vá ao ar. O que acontece num modo tradicional? Você faz várias vezes, quando ele está na oitava, ele tem menos emoção verdadeira do que na primeira. Com essa forma de gravar, eles dão o coração deles e valeu, porque tem câmera em todo lugar”, explica ela.

Inspiração no “BBB”

O processo dá certo graças à engenharia do cenário, fabricado sob o comando de João Irênio, e aos novos equipamentos: além de quatro operadores de câmera, quatro câmeras robôs se movimentam ao redor do estúdio para captar tudo que acontece, como num reality show, inspiração declarada do projeto. “O Boninho me ajudou no início. Eu fiquei seis meses entendendo a logística do ‘Big Brother Brasil’ para copiar”, conta Amora.

Roberta Rodrigues, que vive a funkeira Ninfa na trama, agradece tamanha liberdade. “Em ‘Cidade de Deus’ eu tinha isso. Quando vim para a televisão, tomei muito esporro. ‘Roberta, olha a câmera!’, ‘Roberta, olha a luz!’. Mas a gente não está o tempo todo na luz na vida real. É muito bom fazer novela com essa linguagem. Se estiver de costas, não tem problema. É real, é o que o povo quer ver”, opina a atriz.

Para Marco Pigossi, o método tem sido uma agradável descoberta. “Isso influencia 100% no nosso trabalho. O ator também é criador. A Amora ama isso, a cena está viva, ela acha que tem que aproveitar o que acontece ali, mesmo se a gente tiver ensaiado diferente. O resultado é essa naturalidade. É um formato muito novo”, conta ele, que interpreta o policial Dante no folhetim.

Embora diga que não se importe com uma cena “imperfeita”, Amora é conhecida mesmo por sua exigência nos bastidores. “Ela é uma loucura, não se contenta com o bom, ela quer o excelente. Ela não se contenta enquanto não sai uma cena que ela fica satisfeita. Isso, pra gente, é maravilhoso. Ela pensa no ator, não na câmera, e se o plano ficou maravilhoso”, analisa a atriz, que dá vida à mocinha Tóia na trama.

Fonte: UOL Televisão