A imprudência automobilística no Estado de Sergipe tem se tornado o fator principal para que os índices de sinistros com óbito registrem elevações significantes em todos os 75 municípios nestes oito meses de 2014. Em razão da transparente vulnerabilidade, atrelada da ousadia de muitos condutores que desrespeitam as leis contidas no Código de Trânsito Brasileiro, os motoqueiros apresentam o maior número desses casos. Conforme declarado pela direção do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), principal e mais qualificada unidade de saúde para atendimentos de trauma, nos últimos dez anos foi contabilizado um aumento de 50% dos casos de acidente envolvendo motociclistas. O fato é alarmante diante da quantidade de condutores que não usavam capacete no momento da colisão.
O capacete é um item de segurança obrigatório para os motociclistas. Não só porque o Código de Trânsito Brasileiro exige o seu uso, mas também porque ajuda a evitar consequências mais graves em acidentes de trânsito. Além de ser considerada uma infração gravíssima, com multa de R$ 127,69 e perda de sete pontos na carteira, é um risco altíssimo que o condutor e o passageiro assumem. Apesar das ações educativas frequentemente realizadas pelos órgãos de trânsito, não é difícil transitar pela Grande Aracaju e flagrar dezenas de motoqueiros acima da velocidade permitida, sem capacete e outros adereços fundamentais, tais como: antena corta pipa, protetor de pernas e adesivos refletivos no capacete. Estes investimentos, juntos, não custam mais de R$500.
Se há anos esta problemática na metrópole já alcançou o nível máximo de vulnerabilidade física, no interior do estado a impressão que fica é que: ‘capacete nada mais passa de um objeto indesejado e desnecessário’. Para conferir de perto essa situação, o Jornal do Dia na última semana esteve nos municípios de Itabaiana e Nossa Senhora das Dores, e os dados são alarmantes. A cada dez motoqueiros que transitavam nas principais ruas e avenidas destas cidades, apenas 20% estavam respeitando a legislação brasileira. Entre os flagrantes foi possível identificar motos com até três passageiros, todos, sem o uso de capacete. Alguns desses ocupantes eram crianças que não aparentavam ter mais de dez anos de idade.
Paralelo a falta de conscientização dos motoqueiros, a ausência de uma fiscalização abrangente e eficaz torna-se um péssimo aliado dos imprudentes. Em Itabaiana, por exemplo, dezenas de agentes de trânsito estão espalhadas pela cidade, mas flagram esses problemas e nada, ou pouco, fazem. Sem querer ter o nome divulgado, um dos servidores informou que: ?Não tem como controlar todo mundo. Se eu tiver que multar todo mundo por não usar capacete ou ter mais de duas pessoas na moto eu vou ser perseguido. É triste, mas se nenhum outro colega faz, não sou eu quem vou revolucionar?, disse. Até a tarde de ontem três itabaianenses tiveram a vida interrompida vítimas de acidente de moto. Esses números referem-se a Agosto.
O agravante dessas imprudências é claramente demonstrado pelos dados divulgados pela Fundação Hospitalar de Saúde (FHS). Só nos primeiros sete meses deste ano o Huse atendeu mais de 3.500 motoqueiros que se envolveu em algum tipo de colisão e necessitou de atendimento médico. Ainda de acordo com a direção da FHS, na maioria das vezes a vítima é jovem e do sexo masculino, com idade de até 30 anos. Em termos de porcentagem, 30% desses pacientes têm sequelas definitivas, como paraplegias, tetraplegias, deformidades ósseas e amputação. Outros 70% sofrem sequelas parciais, como restrição de movimentos e dores. Em Nossa Senhora das Dores a situação não é diferente. Quem já caiu de moto, muitas vezes permanece transitando sem os devidos cuidados.
Esse é o caso do jovem estudante, Roberto Colaço, que chegou a ficar internado por 15 dias no Huse e mesmo assim ?brinca? com a vida. ?Cheguei a pensar em nunca mais andar de moto, mas depois de três meses tive que fazer um pagamento lá no centro e acabei pegando a moto novamente. De lá pra cá nunca mais deixei?, afirmou. Questionado quanto ao não uso do capacete, a resposta intriga mais ainda a falta de punições. ?Capacete incomoda e as vezes nem adianta tanto. Aqui é quente e usando o capacete parece que a cabeça vai explodir. Conhecemos todo mundo nessa cidade e nenhum fiscal vai prender ou multar porque não estamos com ele (capacete)?, pontuou.
Aracaju ? Na capital sergipana a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) garante que no ano passado os motociclistas representaram 54% das vítimas fatais em acidentes de trânsito. Segundo o balanço estatístico, em 2013 foram registradas 106 mortes em acidentes de trânsito, entre as quais 58 foram de motociclistas. Diferente das duas cidades citadas, Aracaju possui uma fiscalização mais rigorosa e eficiente. De acordo com o capitão José Luiz Ferreira, diretor de trânsito da SMTT, ações educadoras são promovidas, mas em poucas ocasiões. ?Tem obrigatoriedades que todos têm conhecimento, inclusive as crianças. Qual o motoqueiro que não sabe que o capacete é obrigatório? Quando flagrados, estes são punidos como manda a lei?, declarou.
Esse tipo de fiscalização na Grande Aracaju recebe o apoio também de servidores da Companhia de Polícia Rodoviária Estadual (CPRV), Companhia de Polícia Rodoviária (CPRv), e da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) do município de Nossa Senhora do Socorro. ?Antes de ampliarmos nossas fiscalizações, os motoqueiros necessitam se conscientizar sobre a importante necessidade em usar todos os equipamentos de segurança. Só assim teremos um menor número de óbitos aqui em Aracaju, e Sergipe, e o nosso trânsito estará cada vez mais seguro?, pontuou J. Luiz.
Fonte: Por Milton Júnior (Aracajufest)