desabamento

Peritos do Estado de Sergipe continuam trabalhando na investigação dos motivos que teriam contribuído para o desabamento de um prédio no bairro Coroa do Meio, zona sul de Aracaju. O sinistro que resultou na morte do bebê Ítalo Miguel, de 11 meses, completa hoje um mês e mobiliza técnicos do Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia, Corpo de Bombeiros e Instituto de Criminalística. Conforme informações ainda não oficiais, o engenheiro responsável pela obra declarou junto a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) que o imóvel possuía quatro compartimentos, mas, diante dos escombros, peritos da Força Nacional identificaram um quinto andar na qual estaria fora dos aspectos de segurança exigidos pelos órgãos competentes.

Até o presente momento cerca de dez pessoas foram intimadas a prestar depoimento na Delegacia Especial de Turismo, responsável pela coordenação geral da comissão que analisa as causas da tragédia. Entre os depoentes estão alguns operários que por mais de três meses trabalhavam na obra, o proprietário do imóvel, populares que residem próximo ao edifício, além do engenheiro assinante a ata de ordem de serviço, e que, por motivos ainda inexplicáveis, permanece com a respectiva identidade não divulgada. A perspectiva inicial apontava esta terça-feira, 19, como data limite para apresentação do inquérito, mas diante da complexidade dos fatos o fim do inquérito pode durar mais 30, ou até 60 dias úteis.

A fim de tomar conhecimento dos motivos que podem resultar em um atraso em até 300%, na manhã de ontem o Portal Aracajufest tentou conversar com o delegado Valter Sinas, presidente das investigações, mas o técnico preferiu se manifestar apenas depois que o relatório final for apresentado pelos estudiosos. ?Estamos ainda em fase de análise e o que posso confirmar a imprensa é que pouco mais de dez pessoas já foram ouvidas por nós aqui na Delegacia do Turista e que toda a nossa equipe permanece empenhada para concluir esse assunto o mais rápido possível?, disse. Questionado quanto aos empecilhos encontrados durante as investigações, Sinas informou que depende de um laudo a ser apresentado pelo Instituto de Criminalística.

?Trata-se de um serviço em conjunto onde devemos juntar todos os resultados e começar a apontar o erro, ou os erros. Estou aguardando a apresentação de um laudo e só iremos voltar a conceder entrevistas no final de todo esse trabalho de investigação?, pontuou o delegado. O desabamento que foi registrado às 2h30 do dia 19 de julho na Rua Poeta José Sales Campos, também soterrou o servente de pedreiro, Josivaldo da Silva, 24, a esposa dele, Vanice de Jesus, 31, a filha dela, Ane Gabriele de Jesus. Em fase de acabamento, o prédio residencial estava previsto para ser entregue até a primeira quinzena de setembro. As vítimas passaram 34 horas sob os escombros.

De acordo com o perito criminalístico, Moisés de Oliveira Chagas, atual diretor do Instituto de Criminalística do Estado de Sergipe, é preciso ter cautela para analisar de forma fiel os problemas que interferiram na resistência estrutural do imóvel. Segundo o técnico, o importante é analisar desde o serviço de fundamentação, até a qualidade dos materiais de construção utilizados na obra. ?Devemos averiguar o tipo de areia, o tipo de concreto e brita, a polegada das vigas de ferro, a quantidade de blocos e pedras utilizadas no alicerce. É preciso ter cuidados nos estudos para que possamos apresentar a justiça e a sociedade respostas éticas e que represente em 100% a natureza dos fatos?, afirmou.

Pela direção da Emsurb foi dito que o prédio tinha alvará para construção e que a licença estava regular desde o ano de 2012, quando iniciou a construção. Já pelo Crea, foi comunicado que o engenheiro responsável não comunicou o respectivo afastamento do serviço em virtude de descumprimento salarial por parte do contratante. Para a missão de resgate foram mobilizados mais de 60 profissionais do CBM, Defesa Civil, Crea, Samu, Polícia Militar, SMTT e da Força Nacional. Para colaborar com as investigações uma portaria foi oficializada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/SE), autorizando que o engenheiro perito José Francisco Chagas Filho integrasse a comissão.

?Conversamos com o secretário João Eloy e ele prontamente permitiu que o nosso servidor se apresentasse ao delegado Valter Sinas. Nós permanecemos ajudando na medida do possível para agilizar essas análises?, concluiu Moisés de Oliveira. Compartilhando com as declarações do perito criminalístico, o comandante do Corpo de Bombeiros coronel Reginaldo Dória garantiu ampla disposição para contribuir nas investigações. Segundo o militar, os trabalhos in loco foram concluídos dois dias depois que as quatro vítimas foram resgatadas com vida, mas as investigações permanecem ?ordinariamente?. Acreditando em um fim próximo desse trabalho, Dória voltou a parabenizar o trabalho promovido de forma coletiva.

?Um mês hoje que iniciamos um dos trabalhos mais demorados e cautelosos por parte do Corpo de Bombeiros e todos os demais órgãos que atuaram naquela missão. O resgate foi feito e já estamos mais perto de saber o que causou o colapso. Nós do Corpo de Bombeiros permanecemos à disposição da comissão?, declarou.

Crea ? O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe, Jorge Roberto Silveira, minimizou a demora na apresentação dos laudos e criticou a construção de um andar irregular. ?Esse é um trabalho lento, pois depende de análises de materiais em laboratório, mas em um prazo de 30 dias estaremos entregando o laudo pericial. Seriam três pavimentos, mas um quarto andar foi erguido sem a devida autorização ou acompanhamento técnico. Seriam de 20 a 25% de peso na estrutura. Obra nenhuma resiste a esse sobrepeso?, declarou. Nos últimos 30 dias o proprietário do imóvel foi procurado pelo Aracajufest, mas preferiu não conceder entrevistas.

Paralelo aos estudos relacionados ao desabamento, a justiça sergipana investiga outros empreendimentos residenciais em fase de construção no bairro Coroa do Meio, que, por ventura são de propriedade do mesmo empresário e que estaria apresentando erros semelhantes, como exemplo: falta de acompanhamento profissional. ?Uma obra sem o acompanhamento de um engenheiro ou um técnico responsável, isso é gravíssimo. A obra tinha que ser paralisada?, pontuou Jorge Roberto. A comissão técnica não anunciou o dia que deve apresentar o relatório final.

Fonte: Por Milton Júnior (Aracajufest)