Produtora de vídeos de funk conquista mais um recorde na plataforma de vídeos, mas repete fórmula e linguagem desde o início

Kevinho em um dos clipes dirigidos pela produtora Kondzilla
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Kondzilla já é o terceiro canal de vídeos mais popular do YouTube no mundo, com 28,4 milhões de assinantes. Não é apenas no Brasil. E sim em nível mundial. É mais que Ed Sheeran. É um feito e tanto para uma produtora de clipes de funk que começou sem nenhum apoio e até hoje se mantém trabalhando principalmente com artistas independentes.

No entanto, tanto o funk atual quanto os vídeos produzidos por ele, já entraram em um esquema de piloto automático. A linguagem usada pelo diretor segue a mesma fórmula há anos.

Nas imagens filmadas com bastante qualidade técnica e talento pelo diretor, o mesmo enredo e montagem se repetem à exaustão desde o início. Cantores com correntes douradas brilhantes, bonés de aba reta ou cabelos arrepiados, tatuagens, carrões, mulheres de biquíni, festa na piscina e mansões ao fundo.

Esse conceito herdado do rap gangsta norte-americano e que ganhou uma linguagem própria com Kondzilla tem sim seu valor estético e cultural. Não tem mais como falar sobre história da música no Brasil sem citá-lo.

Mas fica a impressão de que o funk e seus clipes caíram no conformismo de não mexer no que está dando certo. Algo no mínimo triste para um estilo que nasceu exatamente para contestar. Nem mesmo rap gringo se pauta num mesmo estilo para sempre e uma hora, acredite, vai saturar.

Kondzilla: diretor virou referência em clipes de funk
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Kondzilla já demonstrou em entrevistas ter inteligência para entender o mercado como poucos no funk. Não à toa, é uma espécie de exemplo para quem acredita em meritocracia (embora quem endosse esse pensamento, dificilmente escute funk).

Mas falta vontade para ele dar o próximo passo no que diz respeito à linguagem. Ok, ele entrega o que o público quer consumir e o cliente queira comprar. Ele sabe, todos sabemos. Afinal, a ostentação e sonho de estar inserido no mercado de consumo mexe com os corações e mentes dos jovens de periferia no mundo todo.

Mas o destino do funk nesse caminho é se tornar um gênero que vai cair na mesmice de temas, abordagens e conceitos, como o sertanejo. Só que ninguém mais que Kondzilla nesse mercado tem poder para inserir mudanças relevantes que levariam o estilo a uma nova fase e o manteria interessante para a próxima década e geração. Com esse esvaziamento de criatividade, o funk perde força no longo prazo do mesmo jeito que o samba perdeu no Brasil a partir da década de 90. 

O maior perigo para qualquer estilo é virar esquemático e pouco surpreendente. A história já provou isso.

Fonte: R7, por HELDER MALDONADO