Em 30 anos de carreira, Supla, que chega aos 50 anos neste sábado (2), foi incapaz de guardar arrependimentos. Ou quase isso. Uma participação em um programa de TV apelativo aqui, uma rescisão repentina de contrato com a gravadora EMI ali. Mas nunca —e ele frisa— coçou a orelha por ter votado nos próprios pais, Marta e Eduardo Suplicy.
“Eu tenho que falar isso. Eu voto mesmo. É meu pai e minha mãe. Se não fosse eles, eu não estaria aqui”, diz o cantor, que recebeu o UOL nesta quarta-feira (30) em seu apartamento no centro de São Paulo, onde mantém um estúdio particular e acumula compulsivamente livros e revistas importadas de rock.
É também ali, de sua ampla varanda de arquitetura neoclássica, que vê de camarote algumas das mais fagulhentas manifestações dos últimos tempos, como a dos professores da rede estadual e a do MPL (Movimento Passe Livre). Em meio ao bombardeio político, Supla, “anarquia total”, prefere não escolher lado. “Não apoio nenhuma manifestação, nem a favor nem contra o governo. Os dois lados se atrapalharam com o poder.”
Na conversa de pouco mais de meia hora, Supla se mostrou animado com a música. Com sua autobiografia “Supla – Crônicas e Fotos do Charada Brasileiro” nas lojas, ele agora prepara o retorno à carreira solo, após sete anos dedicados ao duo Brothers of Brazil, ao lado do irmão João.
Prometendo um “Papito” mais politizado, o novo álbum deve sair em meados deste ano, antes das eleições presidenciais nos EUA. Em tempo para não caducar a irônica “Trump, Trump, Trump”, faixa em que ele assevera que o empresário e pré-candidato do Partido Republicano jamais entrará na Casa Branca.
As já divulgadas “Parça da Erva” e “Diga o que Você Pensa” também estarão no disco, além da inédita “Anarquia the Life Style”, outra com teor político. “Os anos ensinam, ninguém me representa. Não seguiremos normas que alguém inventa. Anarquia the Life Style para você. Anarquia vou viver”, canta em ritmo punk.
Sobre a infame “síndrome de Peter Pan”, a de roqueiros energéticos que se recusam a envelhecer, Supla se resume a três palavras e uma preposição: “Coisa de bunda mole”.
Fonte: UOL