Alô, povo das modas! Aracaju acaba de ganhar o tão esperado curso de Design de Moda, sim, sim. Tem anos que burburinhos rodam por aí de que isso aconteceria, mas quando a gente achava que tava quase lá… nada! E dessa vez é verdade, aleluia, irmãos! Coloquem suas Vogues debaixo do braço, preparem suas máquinas de costura e vamos estudar que agora é valendo.
Deixando as brincadeiras de lado, o nosso mercado de moda merecia, afinal, já temos sim uma movimentação real há algum tempo, em diversas áreas. Temos confecções que precisam de costureiras, de estilistas, de desenhistas, assim como multimarcas que precisam de bons produtores de moda pra seus desfiles e campanhas, por consequência alguém que entenda de marketing focado nessa área e por aí vai.
Pra inaugurar o curso tecnólogo que dura dois anos e meio, a Universidade Tiradentes – UNIT convidou ninguém menos que o estilista Alexandre Herchcovitch pra uma palestra em formato de bate papo com os alunos e convidados como uma aula inaugural. Eu estive lá (cheguei atrasada porque tava doente – raiva!) e tentei trazer um pouquinho do que ele falou por lá e uma entrevista bem legal com o coordenador do curso, o Edilberto Marcelino, que foi super querido e atencioso.
Maria Fernanda Goes (estava presente na plateia) – Pra estar no curso de Design de Moda, é preciso saber desenhar?
Alexandre: Eu não acho que o desenho seja essencial pra você criar, o que é essencial é você ter uma boa ideia, porque você pode até contratar alguém pra passar essa ideia pro papel, o que é mais difícil é ter ideias, não é desenhar. O meu desenho não é artístico, é um desenho técnico feito à mão. E eu peço que toda a minha equipe também faça o desenho à mão porque eu acho que você consegue com o traço passar muito mais dados e emoção pra roupa que eu acho importante pra interpretação do modelista e da costureira. Mas quando eu fiz faculdade a matéria de Desenho de Moda era um problema pra mim, porque eu gostava, mas não amava. E hoje às vezes eu nem desenho, eu vou falar com a minha modelista e explico, falo pra ela o que eu quero.
“Às vezes o meu discurso é mais eficaz que meu desenho, então por isso que com o passar dos anos eu não fiquei me pressionando tanto.” A.H.
Edilberto, coordenador do curso de Design de Moda na UNIT e Alexandre Herchcovitch na aula inaugural
Bele: Fale mais sobre o curso, como está sendo a aceitação do público, dos alunos.
Edilberto: Foi feita uma pesquisa a pouco mais de dois anos atrás para verificar a viabilidade do curso, as áreas de atuação e onde esse profissional se enquadraria em Sergipe e vimos que temos um mercado crescente, muitas vezes pouco reconhecido, e autodidata, além de uma população que mantém-se continuamente a procura de conhecimento específico, que faz cursos curtos em outros Estados e até presta vestibular para cursar graduação em Moda nas cidades vizinhas.
O nosso objetivo ao montar o nosso curso de Moda foi atender a esse mercado crescente e possibilitar o contato com as diversas áreas que englobam a Moda, além do estilismo e modelagem, as questões de empreendedorismo, estética, fotografia e vitrinismo, por exemplo, o que permite ampliar o horizonte de possibilidades para àqueles que já estão inseridos no mercado e oferecer um segmento de atuação para aquele que gosta de moda, que quer trabalhar nessa área, mas não sabe exatamente com quê. Nesse primeiro ano, a aceitação está sendo muito boa. Tivemos uma boa procura no Vestibular e estamos com duas turmas bem interessantes, que já conseguiram entender a nossa proposta de curso e estão bem animados para o que está por vir a cada novo dia de aula.
Bele: Para onde, de fato, você acha que esses alunos vão no decorrer (e ao finalizar) o curso? Dentre as áreas de estilismo, produção, etc… Vendo hoje o mercado sergipano de moda, onde você vê eles trabalhando?
Edilberto: Apesar do curso ter sido construído em cima da necessidade do nosso mercado, o nosso aluno sairá pronto para atuar onde ele quiser. Eu consigo enxergar em meus alunos muito potencial para movimentar Sergipe, seja na viabilização de produtos mais adequados ao nosso clima e ao perfil da nossa população, seja na produção de peças com qualidade superior nas confecções da capital e dos interiores, seja assessorando personalidades e empresas com serviços de styling e até trabalhando na indústria têxtil desenvolvendo estamparia e se envolvendo com mais conhecimento e experiência para elevar a qualidade dos nossos tecidos.
Teremos muitos estilistas novos, mas também teremos muito profissional que trabalhará para o reconhecimento dos nossos produtos, disseminando a nossa moda em sites, revistas, jornais etc. Teremos profissionais que saberão sobre moda, a ponto de discutir da estética ao acabamento e preço das peças.
Bele: Na palestra, o Alexandre comentou que não acha o saber desenhar essencial pra quem trabalha com moda… como está a grade de matérias do curso?
Edilberto: A nossa matriz curricular foi construída a fim de que o profissional formado tenha o conhecimento de todas as etapas básicas do mercado de Moda. Inicialmente ele se encontrará com disciplinas básicas para que eles entendam os fundamentos estéticos e estruturais. Em seguida eles passarão por uma fase em que eles aprenderão mais sobre a construção e concepção das peças, para que, por fim, eles aprendam a se colocar no mercado e promover os produtos. Todos esses conhecimentos são essenciais, independente da área de atuação escolhida pelo nosso formando.
Por exemplo, se um dos nosso alunos quer ser Comprador de Moda para algumas lojas, ele sabe distinguir o perfil do consumidor de cada uma delas e na hora de selecionar as marcas ele estará atento à composição dos tecidos, modelagem e acabamentos, para avaliar o custo-benefício e se o produto se adéqua à todas as variáveis das necessidades do consumidor final, fornecendo ao seu contratante um estoque de peças que estão de acordo com as tendências e que não vão encalhar na loja. Para chegar a esse resultado ele teve que conhecer todo o processo, passando pelas disciplinas de modelagem, comportamento do consumidor, estética e estudo arte, história da moda, materiais e tecnologias têxteis, criação de moda e produção de moda, por exemplo.
Bele: Quem são os professores? São de Aracaju? Como foi essa procura por eles?
Edilberto: Alguns dos nossos professores são da Universidade e outros foram contratado para o curso de Moda. Os professores foram escolhidos a partir do seu conhecimento específico na disciplina que ministrará. Os nossos professores de Informática Aplicada a Moda, por exemplo, tem anos de conhecimento dos softwares utilizados na disciplina e voltam a sua utilização para a necessidade do mercado, e é com esse raciocínio que seguimos montando o nosso corpo docente. Quanto ao processo de busca pelos professores, é um trabalho de seleção, muitos profissionais entraram em contato, muitos nós que entramos, mas todos eles passam por uma avaliação, a fim de identificar àqueles que possuem o conhecimento e que se enquadram no perfil de professor.
Bele: Como é o perfil dos alunos recém-chegado? O que eles tem mostrado esperar sobre o curso?
Edilberto: O nosso aluno não chegou ao curso sem saber o que queria, todos eles conhecem um pouco do mercado e querem se aplicar. Eu tenho na turma Misses, modelos, blogueiras, donas de loja, gerentes, visual merchandising, costureiras, jornalistas, donas de confecções, modelistas e estilistas, os poucos que ainda não trabalham na área carregam conhecimento de anos de leitura. Todos vieram com o objetivo de ampliar os horizontes, se aplicar mais na área e desenvolver melhores produtos. As apostas que fizeram no curso são altas e estamos preparados para atendê-las e, sempre que tivermos oportunidade, tentaremos superá-las.
No final da palestra, o Alexandre deu um recado final tipo conselho, rs, pra todo mundo que estava entrando no curso. Mostrou que é legal ter a percepção de que dentro de Moda existem mais de 50 profissões diferentes, não só a de estilista como pensa a maioria. “Existem mais de 150 faculdades de Moda no Brasil, se todo mundo que se formasse quisesse ser estilista, não tinha gente suficiente pra comprar tanta roupa.”. Deu o exemplo de como a função de costureira está cada vez mais extinta quando ao mesmo tempo há uma demanda enorme de coleções e criações a serem colocadas em prática. Deu a dica, hein?
No mais, aos que estão matriculados, se joguem! Aproveitem cada dia de aula pra mergulhar nesse mundo incrível que é Moda. Eu fiquei louca pra fazer, mas a falta de tempo da pessoa não permite (prioridades, calma, Bele…). Mas sempre vou tá aqui de olhos abertos e ansiosa pra ver essa galera criativa saindo e fazendo o nosso cenário de Moda cada vez mais forte. Sigamos!
Beijos e tenham uma semana iluminada,
Bele.