Os agentes penitenciários decidiram no início da noite de ontem continuar em greve por tempo indeterminado em virtude de não terem firmado acordo com o Governo do Estado de Sergipe. Sem promover uma série de funções administrativas desde a última sexta-feira, 11, o sindicato da categoria garante que os profissionais diariamente estão presentes nas unidades penitenciárias, mas que inviabilizam serviços permitidos pela Constituição Federal, a exemplo da entrada de familiares, e condução de detentos para os fóruns. Órfão de equipamento de segurança, reajuste salarial, e maior efetivo composto por servidores, os grevistas garantem que desde 2009 tentam negociar com a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (Sejuc), mas não conquistam êxito nos pleitos.
Em entrevista o vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Sergipe, Marcelo Soares, é preciso que a administração pública realize de imediato uma qualificação estrutural nos presídios e que concursos públicos sejam abertos para a contratação de novos agentes. Para o sindicalista, mesmo sem reais condições de trabalho, os trabalhadores estão atuando de forma ética e por amor à profissão. ?Nossos coletes estão vencidos desde janeiro do ano passado e ninguém faz nada. Quando tem rebelião ou qualquer que seja o confronto com os detentos nós sempre fazemos de tudo para que não haja fuga e sempre saímos feridos porque não temos nem escudos?, denunciou.
Durante assembleia extraordinária realizada na tarde de ontem na sede do sindicato, em Aracaju, o problema envolvendo a rebelião dos detentos locados na unidade penitenciária regional Juiz Manoel Barbosa de Souza, município de Tobias Barreto, foi motivo de discussão e atrito verbal entre os próprios sindicalistas. Para muitos, apenas os homens da Tropa de Choque e do Grupo de Ações Táticas do Interior (GATI) tiveram destaque na operação que resultou em dois foragidos, um homem carbonizado e 60% da unidade destruída pelos vândalos. Ainda de acordo com Marcelo, é preciso que o estado entenda a reivindicação dos agentes e evite novos episódios semelhantes ao da última segunda-feira, 14.
?Muitos já me perguntaram o porque da greve continuar justamente nesse período de tantos detentos rebeldes. A resposta é simples e objetiva: Cansamos! Estamos cansados de tantas reuniões em gabinetes, promessas serem feitas e nenhuma providência adotada. Por isso, não vamos abrir mão das nossas reivindicações, aconteça o que tiver que acontecer?, pontuou o sindicalista. Mediante a paralisação, a categoria exige que todas as faltas sejam abonadas assim que a mobilização dos trabalhadores chegue ao fim. Conforme dados do sindicato, o estado possui na folha salarial pouco mais de 600 agentes, mas apenas cerca de 250 estariam de fato atuando nestas unidades. Os desvios de função seria o principal motivo para mais este problema.
Também em entrevista nos concedida, o agente Diego Silva afirmou que: ?existem agentes penitenciários que há mais de seis anos não sabem o que é pisar os pés dentro de uma penitenciária aqui em Sergipe?. Isso estaria ocorrendo devido alguns profissionais terem articulado parcerias políticas e que foram designados a promover segurança particular de profissionais que atuam no âmbito da justiça e de administradores públicos do primeiro escalão. ?Os terceirizados estão por aqui, mas nossos colegas realmente de profissão, não. Se querem segurança particular, que contratem, mas não desviem funções e permitam que as penitenciárias fiquem cada vez mais frágeis?, afirmou.
Ilegalidade ? Por volta das 18h30 de ontem o secretário Walter Lima, responsável pela pasta da Justiça e Cidadania afirmou que o governo estaria entrando com um pedido judicial enaltecendo uma possível ilegalidade da paralisação. Segundo o gestor, desde o início deste ano o governador Jackson Barreto de Lima se mostra preocupado com a reivindicação da categoria e, inclusive, já teria realizado algumas reuniões com os líderes trabalhistas. ?É preciso reforçar a informação que não estamos minimizando o pleito dos agentes, nós estamos sim preocupados e queremos muito entrar em um bom senso coletivo. O que repudiamos é essa mobilização que só prejudica o andamento das negociações?, disse.
Enquanto as partes não entram em acordo, as famílias permanecem inviabilizadas de se encontrarem com os detentos; apenas os alimentos oferecidos pelo estado é que são oferecidos; o banho de sol em algumas unidades penitenciárias permanecem interrompidos; e nenhum presidiário sai da área de segurança máxima sem ordem superior da justiça sergipana.
Por Milton Júnior