por Hilário

 

Aconteceu na última sexta feira, 15, a Brocasito Aju Party. O evento que aconteceu na SKY Club contou com shows de artistas de renome na cena local como Dayo, Neeutro, Dani DK, Lee Magnata e Lipeeh SB, além do headliner Brocasito, rapper baiano que acumula milhões de streams nas plataformas digitais e feats com artistas gigantes na cena do hip hop brasileiro a exemplo de Teto, MC IG, MC PH, Vulgo FK e Yunk Vino.

 

Um fato que chama atenção é que mesmo a festa tendo um excelente line-up, um headliner de impacto na cena nacional e um local com boa segurança, o apelo do público pagante em eventos do gênero no estado não vem correspondendo a expectativa dos organizadores.

 

San, um dos organizadores do evento, reafirma a dificuldade de fazer eventos do gênero em Sergipe. “Fazer evento de trap aqui no estado é um tiro no escuro, de certa forma. Mas sempre corremos esse risco por amar o que a gente faz. Mesmo com essa incerteza, sempre que possível trazemos alguns shows para dar essa movimentada na cena e no estado’ diz o organizador.

 

Mas apesar dos obstáculos, o organizador da Brocasito Aju Party reitera o prazer de realizar eventos desse estilo.” É muito prazeroso tanto para nós, quanto para os artistas locais que estão no palco e querem mostrar a sua apresentação, dada a pouca demanda de shows. E satisfatório também para o público que cola, pois não há tantas oportunidades de prestigiar eventos que possua essa experiência aqui no estado’ completa San.

 

Diante dessa incerteza referente ao sucesso dos shows de trap no estado, João Guilherme, que esteve presente no evento da última sexta-feira, cita alguns fatores que, na visão do público, dificultam a presença de pagantes nos eventos. “Acredito que o nosso estado em si já não dá tanta atenção ao hip-hop historicamente, é bem verdade que muitas pessoas realmente acham que não existe uma cena em Aracaju e isso também pode ter uma parcela de preconceito com o estilo. Porém, o que sinto que inviabiliza também parte da nossa cena para o público. Ingressos muitas vezes acabam tendo uma valor um pouco acima comparado à qualidade das apresentações de parte dos artistas, divulgação do evento mais consistente e os próprios artistas começarem a ter uma visão mais ampla referente ao seu trabalho, tendo ao menos uma constância quanto aos lançamentos” enumera João Guilherme.

 

“Participar de um evento de trap no nosso estado é sempre gratificante. Nós sempre vamos fazer acontecer e entregar a melhor performance dentro da nossa casa. Mesmo com a dificuldade do público aracajuano em não consumir os artistas da casa, nós sempre iremos mostrar a grandeza e expor o tanto de talento que há na terrinha’ afirma o artista Dayo.

 

É inegável que a cena do hip-hop sergipano precisa evoluir no geral. Artistas precisam ter uma consciência quanto ao impacto de seus projetos, saber o real objetivo de sua caminhada na música, ter uma regularidade maior de lançamentos, promotores precisam avaliar melhor sobre o que eles ofertam em relação aos valores dos ingressos. Por sua vez, o público ter um olhar acolhedor sobre os nossos artistas da terra, consumir a arte local da mesma forma que consome o mainstream e ver que temos rappers com tanto potencial quanto os do eixo, afinal, para a evolução da nossa cena, a luta precisa ser coletiva.

 

Por último e não menos importante, faz-se necessário a presença de empresários e possíveis investidores que pensem no business e entendam que é um cenário de crescimento e de muito potencial e que a maior parte desses problemas jamais aconteceriam se tivéssemos uma evolução estrutural em shows, em lançamento, no marketing dos artistas. Quando falo de muito potencial, estou falando de futuro. Imagine o cenário em que um artista, além de construir linhas de impacto e criar flows, ele consiga fazer a batida, se gravar e, dependendo da qualidade, poder mixar e masterizar a sua música? Apesar de parecer impossível, isso já acontece na nossa cena, temos artistas muito mais completos e com capacidade de entregar faixas dez vezes mais rápido comparado aos artistas de outros gêneros.