Salve, rapaziada. Sejam bem vindos ao Kajueiro Cultural! Aqui nós temos o objetivo de enaltecer e informar sobre os nossos artistas locais, além fazer constantes reflexões sobre a forma que a indústria invisibiliza as raízes da cultura sergipana. Me chamo Hilário e para sugestões de pautas ou divulgações de releases, você pode entrar em contato através do e-mail [email protected] ou pelo nosso Whatsapp: (79) 98116-5315.

 

Criar raízes, desenvolver todo o corpo para poder, assim, dar seus frutos. As árvores são essenciais para uma Terra mais estável e diversa. Quanto melhor cultivada elas são, mais saudável elas se vão se tornar e mais nutritivos serão os seus frutos.

 

Acontece que, pela pressão de gerar frutos constantes e aparentemente mais estéticos do que podem ser, a indústria adoece suas árvores extraindo todos os nutrientes e utiliza de “venenos” para padronizar o produto, tornando assim quase que imperceptível a pobreza nutricional aos olhos de quem compra, no máximo uma estranheza passageira referente ao tamanho ou ao gosto da fruta.

 

Por mais que pareça só uma reflexão sobre a indústria do agronegócio, esse exemplo se encaixa perfeitamente para as indústrias que comandam a cultura no geral. Apesar de terem o conhecimento científico de que as raízes e as tradições que tornam o produto singular, a indústria jamais preferirá apostar em um artista ou em um projeto singular sendo que o padrão -por mais que seja vazio e pobre culturalmente- além de satisfazer de maneira momentânea os consumidores, é um produto muito acessível para moldar.

 

E esse tipo de transgenia que ocorre com o produto auxilia o enfraquecimento das raízes, pois não importa mais se o desenvolvimento do artista foi saudável ou não, ou se ele adquiriu uma bagagem cultural de forma que execute sua arte com singularidade. Nos dias atuais, o que importa é que ele seja esteticamente agradável e que possa ser útil da forma em que lhe é imposto.

 

Por sua vez, a indústria acaba sendo tão poderosa que também moldou a forma em que os consumidores se relacionam com os projetos. Álbuns focados no retorno a curto prazo, apostando muito mais em hits e em tráfego pago do que na exploração do conceito e experiência para os ouvintes, músicas cada vez mais curtas com uma sonoridade genérica, direção criativa focada em entregar um produto com base em projetos que foram lucrativos do que construir algo embasado nas próprias referências conciliando assim com o conceito da obra e, por consequência, um público insatisfeito, porém indecisos ao tentar desvendar o que incomoda nos projetos em si.

 

Caros leitores, o incômodo pode se atribuir também ao vazio existente na obra, tal como uma fruta grande e esteticamente agradável, só que pobre em sabor e em nutrientes. Dada a forma que essa relação tóxica entre consumidor e obra é moldada, mas também temos que rever nossos hábitos quanto consumidores. Não adianta reclamar ou exigir que o seu artista favorito tente se reinventar e fugir dos padrões se a forma em que você consome a arte não é algo saudável. Sempre em busca de um novo lançamento igual aos anteriores e não para pra ouvir sequer um álbum do início ao fim.