Utilizar as tecnologias digitais da informação e da comunicação em favor do ensino e da aprendizagem se tornou o maior desafio dos professores. Um processo que, na ótica de pesquisadores, exige habilidade do profissional que está à frente nas salas de aulas, mas também necessidade de se desenvolver uma estrutura nas escolas capaz de absorver estas novas ferramentas para enfrentar um aluno cada vez mais curioso e identificado com o mundo virtual.
Em homenagem ao Dia do Professor, comemorado neste dia 15, o Portal Infonet ouviu profissionais e alunos, constatando as dificuldades que a docência ainda enfrenta nesta era virtual. ?Nos comunicamos em modalidade, arquivamos em ?nuvens?, fazemos muitas transações econômicas, como podemos desconsiderar isso e continuar ensinando com ?cuspe e giz???, questiona a professora Maria Neide Sobral, do Departamento de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Para a professora, a deficiência passa também pela falta de qualificação. ?Nem todos os professores estão qualificados para esse fim e nem todas as escolas dispõem de internet de boa qualidade e de computadores em pleno funcionamento?, avalia.
Em decorrência destes empecilhos, os alunos buscam alternativas e, incentivados até mesmo pelos próprios pais, levam para as salas de aulas os aparelhos de telefonia móvel particulares, com a internet a pouca distância dos dedos.
A professora defende o uso dos celulares particulares dos alunos em sala de aula. ?Não pode proibir o uso dos celulares nas escolas, nem coibir o envolvimento das crianças e jovens em redes sociais, mas desenvolver práticas apropriadas com eles, potencializando, assim, a aprendizagem dos alunos?, considerou.
Há estabelecimentos com dinâmicas bastante avançadas que utilizam a tecnologia como um reforço às tradicionais aulas. ?Hoje, o maior desafio é ajudar o aluno a construir o conhecimento, trazendo algo novo?, considera o professor Luiz Carlos Santana, coordenador de educação tecnológica de uma escola privada. ?O aluno não está muito disposto a aprender, tem mais ímpeto a descobrir?, considera, destacando que a escola deve buscar, na tecnologia, fatores que estimulem o aluno a construir o conhecimento. ?Não apenas absorver conhecimento?, adverte.
A professora universitária Marília Fontes também não abre mão da prática pedagógica por meio do espaço virtual, criado na faculdade, para ministrar aulas. ?As novas tecnologias são fundamentais. Os docentes têm que se adaptar a esta nova geração?, diz. Segundo a professora, através da secretaria virtual os alunos têm acesso a fóruns de debate, orientações e todo material didático. ?Com isso, as aulas presenciais ficam bem mais dinâmicas?, opina a professora.
Na escola pública, a realidade é completamente diferente, na ótica do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe (Sintese). Para o professor Joel Almeida, diretor do sindicato, a grande maioria das escolas públicas ?não está preparada para receber tecnologia avançada?. Quadros de giz ou com pincel atômico ainda predominam nas salas de aulas e os laboratórios de informática não acompanham os avanços tecnológicos, segundo o professor. ?E ainda há professores com dificuldade de usar os mecanismos digitais?, enaltece.
Na ótica do diretor do Sintese, as novas tecnologias trazem grandes benefícios para o ensino e, especialmente, no processo de aprendizagem. ?O acesso à tecnologia muda a forma de ministrar aulas, que se torna mais explanativa, muda profundamente a finalidade da aula e o tempo é menor para que os alunos alcancem a aprendizagem?, observou. ?A ausência deste material provoca perda de tempo do professor na elaboração e explanação e torna a aula menos atrativa?, observou.
Os alunos deliram com o novo formato das aulas e com o ambiente apropriado instituído nos estabelecimentos de ensino, que funcionam como uma espécie de reforço escolar. E, por outro lado, os professores vibram com os resultados da aprendizagem. ?Ajuda na criatividade deles, ajuda mais na parte lógica e também na organização?, considera o professor Victor Rocyha, instrutor de robótica de uma escola privada. ?Um processo que passa além do conhecimento?.
As aulas de robótica, segundo o professor Luiz Carlos, são dinâmicas associadas ao conteúdo ministrado nas aulas tradicionais. ?Abordamos matérias de cunho abrangente, seja de geografia, matemática, redação, física… um trabalho em parceria com o professor da matéria para fazer com que o aluno veja, na prática, o conteúdo que viu em sala de aula?, observa professor.
Os estudantes Maria Clara Monteiro, 11, Paulo Henrique Silva, 12, e Maria Luíza Tako, 13, são matriculados no sétimo ano e sempre estão realizando atividades juntos, mas com diferentes objetivos de vida.
Clara pretende se especializar em oncologia e é encantada com a parte de montagem, Paulo, em engenharia mecatrônica ou mecânica, vislumbrado com a programação, enquanto Luíza vislumbra espaço na engenharia mecatrônica e, por isso, gosta de associar as duas opções no processo de aprendizagem.
?A programação puxa a montagem e a montagem puxa a programação, um está ligado ao outro diretamente e dois ajudam a desenvolver a criatividade?, considerou Luíza.
?Tem várias formas de tecnologia interativa que ajuda muito aqui no colégio?, considerou a estudante Gabriela dos Santos, 15, matriculada no primeiro ano do ensino fundamental de uma outra escola privada. ?Não temos só o livro como fonte de informação, podemos usar a internet e é muito bom?, avaliou.
Colegas de sala, Natália Maria Calheiros e Lays Lima, ambas com 11 anos e matriculadas no sexto ano em escola privada, dividem momentos descontraídos, estando no aparelho de telefone celular a maior fonte de diversão. ?Aqui, na escola, a tecnologia mudou muito nossa vida?, resumem. Mas, quando o assunto é rede social… ?Ah, não vou mentir, uso muito e dispersa na aula?, reagiu Natália. ?Uso, mas não dispersa?, opina Lays.
Por outro lado, os alunos da rede pública reclamam dos equipamentos disponibilizados pela escola e criticam o programa do governo destinado à doação de tablets para o alunato. ?O projeto do governo existe, mas não funciona porque os tablets são de péssima qualidade?, resume o estudante Pablo Vinícius Carvalho, 17, matriculado no terceiro ano do ensino médio de uma escola pública.
Mas não é esta a visão da Secretaria de Estado da Educação (Seed). Segundo a assessoria, a Seed possui um setor específico ? a Divisão de Tecnologia Educação (DITE), que formula a política de educação tecnológica, destinada também para a qualificação de professores e para preparar estudantes e gestores para o uso pedagógico das novas ferramentas.
O governo, segundo a assessoria, distribuiu 3 mil tablets entre alunos do 3º ano do ensino médio em 20 escolas públicas da rede estadual de ensino.
Os professores, segundo a assessoria, foram contemplados com 2.444 equipamentos, em 250 unidades de ensino.A assessoria informa que 208 unidades de ensino possuem laboratórios de informática, onze escolas estão executando o programa UCA (Um computador por aluno) e, em 253 escolas, os quadros de giz já foram substituídos por lousa digital.
O acesso à internet por meio do sistema wi-fi é feito em 48 escolas em toda a extensão e, em 31, o acesso é restrito às salas dos professores. Segundo a assessoria, neste ano 650 docentes passaram por qualificação profissional para uso das diversas linguagens digitais usadas em programas de ensino e 254 unidades são equipadas com aparelho de projeção do Proinfo para uso em sala de aula.
?Esse conjunto de dados não apenas contraria a afirmação de que a secretaria não está trabalhando para tornar contemporâneas as práticas escolares como confirma a existência um projeto que pretende inserir nossas escolas, e seus projetos de ensino, no universo digital?, retrata a nota enviada pela assessoria ao Portal Infonet.
Fonte: infonet.com.br