Billy Saga ficou paraplégico em um acidente com a polícia, mas deu a volta por cima através da música. Ele está comemorando 20 anos de carreira

Billy Saga é um exemplo emocionante de superação. O rapper ficou paraplégico em um acidente com a polícia, mas deu a volta por cima através da música. Longe do vitimismo, o paulistano faz canções que, entre outros assuntos, estimulam pessoas com deficiência e denunciam a falta de inclusão no Brasil.

— Eu quero informar através da arte. Hoje, a luta transcendeu minha principal causa, pois precisamos integrar os grupos em benefício da sociedade. Porém, atualmente, existe uma falta de respeito e união geral, onde cada minoria batalha em paralelo pela causa que lhe convém. Penso que todos deveriam exigir um mundo melhor.

Além de músico, Billy é publicitário, artista plástico, consultor da ONG Mais Diferenças e funcionário do Walmart, onde atua como Coordenador de Cultura, Diversidade e Inclusão. Já como presidente do Movimento SuperAção, ele leva entretenimento e informação para todas as regiões e classes sociais do País.

— Tem gente da periferia que não tem conhecimento, só vive jogado em um canto, sendo tratado como um “peso” pela sociedade, precisando de remédios e acessórios caros. Eu faço muitas palestras para informar as famílias carentes sobre seus direitos. E, do outro lado, ainda tem o cadeirante com recursos, que vive fechado em um carro adaptado, sem se importar com o próximo. Quero fomentar o protagonismo da pessoa com deficiência e tentar sensibilizar quem não tem o problema.

Pai de uma menina de dois anos, o rapper e a esposa cantora se apresentam em festivais de arte inclusiva pelo mundo. 

— Eu visitei a Inglaterra e vi que eles estão em outro nível, em comparação ao respeito com a pessoa com deficiência no Brasil.

Este ano, o cantor de 40 anos comemora duas décadas de carreira e continua mais desafiador do que nunca. Entre os planos para festejar a data, estão o novo disco, roteiros cinematográficos e clipes surpreendentes, como fez recentemente no vídeo em 360° para a faixa Sinapses em Transe, que será lançado ainda neste mês. Na gravação, Billy aparece cantando na cadeiras de rodas, em plena avenida Paulista.

— Eu mostrei como é ser cadeirante no meio do trânsito insano de uma das maiores avenidas de São Paulo. Os caras passavam por mim buzinando alucinados e eu ali, mandando meu rap na rua!

Para saber mais sobre o incansável Billy Saga, o R7 encontrou o rapper no centro de São Paulo. Veja os destaques do bate-papo.

Acidente

— Em 1998, fui atropelado por uma viatura da Polícia Militar que passou no sinal vermelho, sendo que o motorista ainda estava com a carta de habilitação vencida. Fiquei paraplégico e entrei com um processo que já dura 20 anos. Ainda não recebi nada… mas a vida segue. A tragédia me transformou no que sou hoje, lutando por um mundo melhor através da minha arte.   

Rap 

— Apesar de curtir hip hop há mais de 20 anos, eu acabei me envolvendo com o universo das pessoas com deficiência depois do meu acidente. Como cadeirante, eu me deparei com a segregação, então usei a força da mensagem do rap para lutar por melhorias e denunciar a falta de respeito. O rap, muitas vezes, não é só música, é um estilo de vida.

Movimento SuperAção

— Quando criei a ONG, eu achava que a gente conseguiria vencer todos os problemas de inclusão, mas a realidade é diferente, é bem mais difícil do que se imagina. Historicamente e independentemente de partido político, ainda falta muito para o governo brasileiro fazer um mecanismo perfeito de inclusão. E, em uma crise, os primeiros cortes de custos são feitos nessa área… porém, isso tudo só me dá mais força para ir em frente e denunciar.

Informação para poucos

— O digital a serviço da tecnologia assistiva, que auxilia pessoas com deficiência, é muito útil. Temos muitos aplicativos que são importante para a questão da inclusão. Na área musical, isso me deu a chance de fazer parcerias e contatos com rappers e produtores pelo mundo. É uma revolução! Por exemplo, eu já toquei em festival que os surdos curtiram meu som a partir da vibração de caixas de áudio no chão e paredes laterais, além do intérprete de libras para as letras. Mas, claro, isso ainda é possível para uma pequena parcela que tem acesso. E são tecnologias que vêm de fora. Se formos analisar, o Brasil não dá nem educação direito para a população, quanto mais pensar em informar eles sobre seus direitos na lei. Vivemos um momento difícil.

Candeia

— Conheci o cantor com meu pai, que tem muita influência na minha formação como compositor. Ele sempre foi muito de samba e isso me levou para o outro lado do gueto, que é o rap. Por coincidência, o Candeia (1935-1978) também se tornou cadeirante depois de levar um tiro. Só que ele era policial. O Candeia tem uma frase genial na música De Qualquer Maneira: “Sentado em trono de rei ou aqui nesta cadeira. Eu já disse, já falei. Seja qual for a maneira. Quem é bamba não bambeia. Falo por convicção. Enquanto houver samba na veia. Empunharei meu violão…”

20 anos de luta

— Na verdade, são mais de duas décadas curtindo rap. Mas a data comemorativa relembra quando eu comecei a investir na profissão, cantando e escrevendo. Atualmente, ainda trabalho as músicas do meu segundo disco (As Ruas Estão Olhando), que foi lançado em 2016 na Inglaterra e um ano depois no Brasil. Então, estou fazendo dois clipes do CD e compondo material para o próximo EP, que será lançado no segundo semestre.

Fonte: R7, por Daniel Vaughan