Foi a primeira vez que o Inep ofereceu essa possibilidade. Ela pretende disputar uma vaga em serviço social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A candidata disse que só foi tratada apenas como Maria Clara no local de provas e que não teve problemas na hora de se identificar. ?Acho que ela [a fiscal] já tinha dado uma olhada e visto que viria uma mulher trans para a sala. Quando cheguei, ela me olhou e já abriu um sorriso. Me senti acolhida.?
Maria Clara diz que se sentiu feliz com o atendimento. ?A prova, em si, já é de resistência. Mexe com seu psicológico e te desestabilizada. Então, foi muito bom ter ficado tranquila em relação a esse aspecto da minha vida.? Para ela, a sociedade tem de tomar consciência da importância. ?É nosso nome, não é ‘conhecida como’, não é ?nome de show’.?
Pelas regras do Enem, o candidato transexual pode optar por usar o banheiro masculino ou feminino do local de prova. “Não fui ao banheiro”, disse Maria Clara.
‘Não senti nenhum desconforto’
A transexual piauiense Maria Laura dos Reis, 36 anos, disse que não sofreu qualquer tipo de constrangimento e afirmou ter sido bem tratada durante os dois dias de prova.
“Não sofri nenhum tipo de constrangimento, pelo contrário, fui bem tratada nesses dois dias do Enem. Quando cheguei ao local de prova não tive nenhum problema com a minha identificação. Os fiscais me chamaram pelo nome social que tinha no meu cartão de confirmação. Entrei na sala normalmente, recebi a prova como os demais candidatos e depois eles passaram recolhendo as assinaturas”, contou.
“Não senti nenhum desconforto ou discriminação por isso, creio também que os fiscais tiveram um preparo antes para nos acolher de forma igual”, declarou.
Ao todo, 95 candidatos e candidatas transexuais tiveram autorização do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para usar seu nome social durante as provas do Enem. Segundo a assessoria de imprensa do Inep, as 95 solicitações feitas foram atendidas.
Para poderem garantir o direito, os candidatos e candidatas precisaram ligar para um telefone de atendimento e solicitar um formulário específico (veja acima). Entre as opções estavam a designação em sala de aula conforme a ordem alfabética do nome social, o tratamento dado pelos fiscais e se vão querer usar o banheiro masculino ou feminino.
‘Fizeram em me sentir bem’
Deborah Sabará, de 35 anos, contou que não sofreu nenhum tipo de preconceito ou desconforto por isso. Pelo contrário, ela relatou que foi tratada de maneira “normal”, a atitude que mais esperava. “Queremos ser tratados como qualquer outra pessoa. Fizeram eu me sentir bem, o que até me ajudou a ficar tranquila para a prova”, disse.
Deborah contou que ficou muito satisfeita com o tratamento que recebeu. “Fui bem recebida. Uma amiga minha me perguntou como tinham me tratado e eu respondi ‘normal’, que é o que a gente sempre quer, ser tratado como qualquer outra pessoa”, disse. “Não ficaram com aquilo de ‘temos que tomar cuidado com ela’. Quando eu cheguei na porta da sala, pegaram meu documento e me chamaram de Deborah.”
No sábado (8), após terminar a prova, Deborah contou que foi levada até uma sala para avaliar como tinha sido o meu tratamento. “Fiquei surpresa com essa preocupação do Ministério da Educação, não sabia que teria isso. Achei interessante”, disse a transexual, que vai tentar vestibular para o curso de serviço social.
Deborah achou o Enem difícil. “Não foi uma prova fácil, tinha muitos textos, e confesso que sou ruim em matemática, nunca gostei muito. Vi outros temas muito complicados. Mas gostei do tema da redação, sobre a publicidade infantil. É um tema que a gente discute muito no movimento, então não tive dificuldades em escrever sobre ele. Meu texto ficou bem crítico.”
Fonte: G1 Educação