Cantor culpou público pelo atual momento do mercado musical e usou como referência um texto viral que circula no WhatsApp

Jorge Vercillo: cantor divulgou texto falso sobre Que Tiro Foi Esse?
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Quem tem parentes adicionados ao WhatsApp e Facebook, com certeza já deve ter recebido algum meme, corrente ou link disseminando informações falsas e boatos.

Ninguém está imune a isso. Mas sempre que desconfiamos da fonte da informação, o mínimo que podemos fazer antes de repassá-la é checar a fonte. E não foi isso que Jorge Vercillo fez antes de sair atacando a atual música brasileira nas redes sociais.

Como um legítimo tiozão do WhatsApp, Vercillo acreditou que um texto viral que ironizava a música Que Tiro Foi Esse, de Jojo Todynho, era de autoria de Arnaldo Jabor (que, ao lado de Clarice Lispector, é o escritor preferido para assinar textos que se transformam em sucesso nos comunicadores instantâneo, mas que são falsos). 

Que tiro foi esse?
Que deram nos cérebros brasileiros roubando-lhes a capacidade de pensar sobre o que cantam e não proclamar o que encanta.

Que tiro foi esse?
Que acertou os tímpanos do nosso povo fazendo-os ouvir lixo achando que é música.

Que tiro foi esse?
Que acertou os olhos de uma nação fazendo-os cegos às mazelas do nosso país.

Que tiro foi esse?
Que paralisou o nosso povo impedindo-os de reagir aos constantes assaltos aos cofres públicos.

Que tiro foi esse?

Ah, Brasil! Que tiro foi esse que nos acertou em cheio, que roubou o nosso brilho e que nos fez retroceder?

É verdade que nós não sabemos de onde veio o tiro, mas é bem certo que esse tiro já derrubou muita gente.

Que Deus nos ajude!!
 

E no primeiro post que fez no face para repassar o viral, Vercillo começa falando sobre o tiro que deram nos tímpanos dos brasileiros. Para o cantor, o grande culpado pelo momento supostamente ruim é o ouvinte, que não consegue mais gostar de “música boa” e só quer saber de sair de casa para curtir, beber e badalar.

As reclamações, claro, também lembram mais ou menos o discurso dos nossos parentes mais velhos que, no meio de  qualquer discussão no almoço de domingo, nunca deixam de lançar o famoso “no meu tempo é que era bom” quando o assunto é cultura.

O posicionamento de Vercillo lembra também o de Lulu Santos, que havia falado no fim de 2017 que a música nacional voltou para a fase anal. A diferença é que Lulu nunca foi um artista desconectado das novidades. Fã assumido de funk e rap, ele soube até o fim dos anos 90 como inserir o que estva em evidência na sua própria obra. Infelizmente, depois lançou discos pouco relevantes.

Ivete e Livinho: parcerias com novatos fez Ivete emplacar novos hits
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O que não chega a ser um problema para alguém que deve ter uns 30 hits e consegue fazer show de duas horas só com músicas que até quem não gosta dele sabe cantar. Porém, quase todas com 20 ou 30 anos de lançamento. Uma hora a fonte seca. Nem Paul McCartney conseguiu fazer música relevante e emplacar sucessos a carreira toda. Não à toa o show do ex-Beatle é um eterno baile da saudade.

Já Vercillo parece não ter entendido que estamos em 2018. E que o tempo da MPB de barzinho passou e tem menor demanda. Aconteceu com o pop rock de Lulu também. E vai acontecer com a Pabllo e com a Anitta. Faz parte do ciclo de renovação musical.

Ninguém roubou esse espaço dos músicos antigos. Uns lamentam. Outros aproveitam para voltar a fazer sucesso, como Ivete, que gravou com MC Livinho e Wesley Safadão e superou um momento da carreira em que suas músicas eram menos ouvidas no YouTube que os funkeiros anônimos lançados pelo canal do Kondzilla.

Esse alinhamento nostálgico e conservador para avaliar música é uma das ideias mais clichê que a cultura pop enfrenta desde a passeata contra a guitarra elétrica. E não adianta culpar o povo, porque essa abordagem sempre virá acompanhada de outros discursos que culminam em ataques pessoais ou ideológicos.

Se o discurso fosse só saudosista e técnico, seria menos pior. Mas esse o tipo de posicionamento inflama os ataques extra-música nas redes sociais, que afetam principalmente gente fora do padrão ou que dialoga com as massas e militâncias, como Pabllo, Anitta, Jojo Toddynho, Luan Santana ou Marilia Mendonça.

Nunca essas críticas são direcionadas para artistas questionáveis do rock e MPB. Isso porque infelizmente, a elite no Brasil ainda relaciona boa música com guitarra distorcida e violão de nylon. 

Fonte: R7, por HELDER MALDONADO