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Ane Gabriele de Jesus, oito anos, recebeu alta médica ontem à tarde depois de sobreviver do desabamento de um prédio residencial, em fase de construção, na madrugada de sábado 19, no Bairro Coroa do Meio, zona norte de Aracaju. No último boletim médico divulgado pelo Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), o médico Johnson Lucas Marques, responsável pelo acompanhamento, registra recuperação significativa de Vanice de Jesus, 31, mãe das crianças; e Josevaldo da Silva, 24, pedreiro que trabalhava na obra e pai de uma das crianças. Eles devem receber alta hospitalar no dia de hoje, e, conscientes e se alimentando de nutrientes sólidos, só pensam no recomeço da vida.

Depois de enfrentarem as precárias condições de sobrevivência durante 34 horas, a família deve passar por novos momentos difíceis assim que deixarem, juntos, a unidade hospitalar. Isso porque o filho caçula, Ítalo Miguel, 11 meses, não suportou as dificuldades, sofreu uma parada cardiorrespiratória durante o resgate e morreu ainda a caminho do Huse. Com acompanhamento psicológico, os pais foram informados na noite de domingo sobre o falecimento da criança. Oito horas depois de haver ficado no necrotério do hospital, o corpo de Ítalo Miguel foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), onde deve permanecer até que os pais possam reconhecê-lo e assim iniciar o protocolo para sepultamento.

Na manhã de ontem os sobreviventes receberam a visita de agentes do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), aos quais relataram os minutos que antecederam o sinistro, como também, a difícil missão em permanecer apenas dois centímetros da laje por quase dois dias. De acordo com Josevaldo da Silva, a situação piorou quando o corpo apresentou necessidade de água e o filho recém nascido já não reagia aos zelos dos pais. ?Percebemos que ele estava ficando cada vez mais com a pele fria. Foram minutos de angústia e desespero, mas não perdemos a fé e fazemos orações. Jesus Cristo sempre me indicava a presença cada vez mais próxima das equipes de resgate. Com sede a gente chegou a buscar água na umidade das paredes?, declarou.

Em conversa com os bombeiros o ajudante de pedreiro disse ter percebido a fragilidade do imóvel horas antes do desabamento. Depois de ir a uma lanchonete, a família estava acomodada em um quarto no primeiro pavimento, quando parte do reboco de outro apartamento começou a despencar. Acreditando que se tratava de um caso isolado, ele decidiu dormir. Acreditando sempre no trabalho dos agentes, Josevaldo da Silva garantiu que ouvia todo o trabalho de socorro. ?Sempre acreditei no trabalho de todos. Quando conseguiram me ouvir passei a ter certeza que eu e minha família iríamos sair com vida. Só tenho o que agradecer a Deus e a todas as pessoas que oravam enquanto outros tentavam tirar a gente?, pontuou.

O boletim médico informa que Vanice de Jesus tem estado de saúde estável e está consciente. Os exames realizados não apresentaram nenhuma alteração. Sem água e com respiração limitada, a alagoana disse que chegou a acreditar que o marido estaria delirando depois que os bombeiros realizaram o primeiro contato sonoro. ?Eles ? bombeiros ? botaram uma mangueira para que a gente pudesse beber água, mas antes disso, já estava ficando impaciente porque Josevaldo parecia delirar. Não deixava a gente dormir, falava muito e queria encontrar água no meio do concreto. Hoje eu entendo?, afirmou.

Josevaldo da Silva e Vanice de Jesus ainda estão na ala verde do Huse. Ane Gabriele de Jesus, depois de ter sido internada na ala verde e no setor de pediatria, às 13h de ontem deixou o hospital acompanhada da avó Maria José Silva.

Por Milton Júnior (Aracajufest)